quinta-feira, 24 de junho de 2010

O último Imperador / por Will.i.am



Eu fui criado em um bairro pobre. quando se
cresce perto da violência e de gente que vende
crack, vai para a prisão e morre, a única saída
que existe é a música. Quando você ouve música
porque há dramas demais à sua volta, ela é como
uma nave espacial que te carrega para um lugar completamente
diferente. É isso que Michael Jackson foi para mim.
Mas por que todos nós amamos Michael Jackson? Por que
Michael Jackson é importante? Por causa de seu extremo talento.
Sua habilidade para dominar seu próprio corpo – seu
modo de cantar, sua dança. E por causa de sua imaginação, de
sua capacidade não só de romper barreiras, mas de continuar
rompendo até que não haja mais barreiras a quebrar.
Michael conseguiu o máximo, e não estou falando apenas
sobre performance e vendas. Ele teve sucesso nos negócios, foi
um empreendedor. Nesse sentido, ele não foi só o Rei do Pop,
mas o Rei da Indústria. Ele foi a Wall Street da música. Não
existiria Jay-Z se não existisse Michael Jackson. Não existiria
Usher nem Justin Timberlake. Todas essas pessoas desaparecem
se você tira o Michael Jackson da equação.
Trabalhei com ele na reedição do 25º aniversário de Thriller
e no álbum em que ele estava trabalhando quando morreu.
No início, estar com ele no estúdio era difícil, porque não dava
para deixar de ser um fã. Eu fi z todas as perguntas que sempre
quis fazer: “Qual foi a sensação de ter feito o vídeo ‘Thriller’?”
“Por que essas meias brilhantes?”
Eu lhe disse que, quando ele fez o clipe de “Thriller”, foi bem
na minha rua. Perguntei à minha mãe se eu podia ir, mas ela
disse que não. “Por quê?”, perguntou ele. Expliquei que era
porque morávamos em um bairro problemático e talvez fosse
perigoso. Ele disse apenas: “Bem, se ela tivesse deixado, talvez
verdadeiro.
Tornamo-nos amigos.
Quanto ao novo álbum, ele sempre disse que queria que fosse
“inaudito”. Eu nunca havia usado essa palavra. Então, fui para
casa e pesquisei. “A gente tem de ir direto na jugular”, disse ele.
Número um. Precisamos ser o número um, seja onde for. Ele queria
superar a si mesmo. Eu dizia que ele não conseguiria fazer
melhor do que já tinha feito. Tínhamos conversas como essa e
fi zemos coisas excelentes. Espero que sejam lançadas.
Quando trabalhei com ele, ele estava ótimo tanto vocalmente
quanto espiritualmente. Atravessando a vida com um olhar
atento e crítico – não sei como ele conseguia. Sendo julgado e
questionado pelo mundo inteiro. Ele ainda se empolgava com
a música, ainda se empolgava para ir aos ensaios e trabalhar
com pessoas de todo o mundo.
Para compreender Michael Jackson é preciso entender de
onde ele veio. Em 2005, quando eu estava trabalhando com ele,
tive o prazer de também trabalhar com James Brown, um dos
ídolos de Michael. Contei a Michael que, quando pedi a James
para tirar uma foto comigo, ele bateu palmas duas vezes, e uma
mulher apareceu de repente e começou a pentear seu cabelo.
Michael só disse: “Uau. O show business não é maravilhoso?”
Quando ele disse isso, tudo fez sentido. No show business, o palco
é qualquer lugar. O palco não está só no Grammy. O palco
é quando você sai do estacionamento. Quando vai ao shopping.
Tem a ver com motivação, com fazer o possível para ser perfeito.
É por isso que Michael Jackson tinha majestade. Quando
ele andava pela rua, era um acontecimento. Para todas as
pessoas que ele cresceu admirando – Frank Sinatra, Sammy
Davis Jr., Elizabeth Taylor – o show estava em todo lugar. Michael
é o último imperador dessa era.
O ÚLTIMO
IMPERADOR
não estivéssemos aqui agora.” Nós criamos um vínculo verda-

Nenhum comentário:

Postar um comentário